Em Busca de Nós Mesmos - Resenha crítica - Clovis de Barros Filho
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Em Busca de Nós Mesmos - resenha crítica

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Sociedade & Política

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Em Busca de Nós Mesmos Diálogos sobre o ser humano e seu lugar no universo

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-8568014455

Editora: Citadel Editora

Resenha crítica

O que é o mundo?

Tudo o que chamamos “mundo” nada mais é do que um conjunto de percepções dos nossos sentidos. Algo que o próprio corpo produz. Considere por um momento os sons que ouvimos. Obviamente, eles não estão no mundo, sendo, apenas, um produto do seu organismo.

O odor que cheiramos também não está no produto, à medida que é produzido pelo nosso olfato. Similarmente, o que vemos é somente a luz que reflete em nossos olhos – são eles que produzem o que vemos, tanto que se as luzes forem apagadas, não teremos mundo para visualizar.

Sendo assim, é natural que cada um veja e sinta mundos diferentes. Afinal, os corpos são distintos uns dos outros. Para Berkeley, filósofo irlandês do século XVIII as questões subjacentes são:

  • será que existe um só mundo para todas as pessoas?
  • Quem garante que tudo não passe de uma espécie de delírio?
  • É possível que o mundo não passe de uma visão?
  • Há, realmente, alguma coisa realmente exterior a nós?

Segundo Berkeley, a mente é a própria realidade, tudo se resume à percepção e o mundo pode ser comparado a um filme na TV – que acaba quando você morre.

O que é prazer?

O prazer consiste na diminuição da dor. Por exemplo, o prazer de comer só existe enquanto reduzimos a dor inerente à fome, pois, sem fome, ele não existiria. O mesmo se dá com o prazer de beber, que também não existiria sem a sede.

De fato, todo e qualquer prazer é condicionado pela dor que, em dadas circunstâncias, é reduzida. Como seria possível existir uma felicidade permanente, eterna e estável se toda a sensação de prazer é, apenas, uma redução da dor que a ele corresponde?

O navio de Teseu

A mitologia é cheia de narrativas inspiradoras e histórias curiosas. Uma delas é o célebre navio de Teseu – o jovem de Atenas que enfrentou e derrotou o temível Minotauro. Ao retornar para o lar, o navio que o transportava tornou-se um símbolo de heroísmo.

Com o passar dos anos, a madeira e os demais materiais que compunham a embarcação foram se deteriorando e, consequentemente, os pedaços foram sendo substituídos até que não restasse mais nenhum elemento original – todas as partes físicas do navio haviam sido completamente reconstituídas.

Na prática, tratava-se de outro navio, completamente novo, embora todos ainda o apontassem orgulhosos e dissessem se tratar do navio do grande herói, pois, o discurso e a narrativa sobreviveram à decomposição material e preservaram a história de coragem do jovem Teseu.

Nossos autores lançam mão desse exemplo para ilustrar o que acontece com o corpo humano: as células morrem e são substituídas por outro, até que, de um ponto de vista físico, não sobre quase nada daquilo que você foi há um tempo atrás.

A unidade do seu ser, assim como o navio de Teseu, é conferida pela sua história, seu discurso, sua narrativa.

O cosmos aristotélico

Quando compreendemos o mundo como algo fechado, finito, temos uma referência segura. Nesse mundo, permanecem válidas as noções de sul e norte, dentro e fora, direita e esquerda. Tais referências são absolutamente válidas para todos.

Por outro lado, quando passamos a compreender o universo como algo infinito, todas as referências perdem sua validade e qualquer padrão deve ser fruto de um entendimento, combinação ou acordo entre nós.

Nada disso era necessário no cosmos do filósofo Aristóteles. Sendo ordenado e finito, cada coisa estava em seu lugar e, a fim posicionar qualquer ser, qualquer ponto, bastava possuir as referências que o próprio universo definia.

Essas profundas diferenças entre o pensamento moderno e o grego têm efeitos políticos e éticos. Do ponto de vista grego, a vida que vale a pena ser vivida se relaciona às informações plenamente válidas: é o perfeito posicionamento junto ao cosmos.

Todavia, para nós, a vida deve ser o resultado de um acordo, uma vez que o cosmos não pode nos fornecer nada que seja minimamente seguro.  

A desconstrução do Humanismo

Sigmund Freud propôs uma noção radical – na contramão de toda a tradição filosófica que sustentava que o nosso pensamento é racional, consciente e livre. Para o fundador da psicanálise, a maioria dos processos mentais é, na verdade, inconsciente.

Isso significa que não estamos cientes da maior parte das coisas que dirigem nossos afetos, comportamentos e pensamentos. Freud ajudou a desconstruir a noção segundo a qual o homem é um ser livre ou especial de alguma forma.

Na prática, temos muito mais semelhanças com os animais – sobretudo, os primatas – do que gostaríamos de admitir.

Cérebro: um cosmos dentro do cosmos

Todo o conhecimento reunido sobre o universo, todas as interpretações sobre o mundo que já foram feitas, desde as primeiras civilizações até a contemporânea física de partículas, foram elaboradas por cérebros humanos.

Os maiores pensadores da humanidade devem sua genialidade e ideias ao desempenho desse maravilhoso equipamento biológico. O pequenino cérebro humano é um colossal cosmos dentro do cosmos.

Mas, não poderia ser exatamente o contrário? Afinal de contas, a ideia de cosmos não poderia existir se, antes, não existissem cérebros humanos. Logo, podemos dizer que, na realidade, é o universo que habita no interior desse fantástico cosmos que chamamos de cérebro.

Compreender o cérebro é entender a nós mesmos. Visitá-lo é passear pelas raízes de quem nós somos, uma viagem essencial para conferir sentido à vida.

Nascer e crescer

O filhote de nossa espécie, ou seja, o bebê humano é o mais vulnerável entre os animais mamíferos. Demoramos cerca de um ano para sermos capazes de andar, mais três para encadear pensamentos que possibilitem a comunicação.

Nascemos em total dependência dos indivíduos que nos cercam. Todavia, o ser humano possui uma excepcional capacidade adaptativa: podemos viver nos mais distintos ambientes naturais, desde o frio extremo do Ártico até o calor escaldante do deserto.

Essa capacidade se deve ao fato de que, ao nascer, temos um cérebro “inacabado” – que tem menos coisas previamente programadas, sendo moldado em conformidade com as experiências com as quais se defronta ao longo da vida.

A ilusão da imortalidade

Nos dias atuais, a sociedade vive sob a triste ilusão da mortalidade. Trata-se de um conveniente esquecimento de nossa mortalidade. Se, diariamente, as pessoas tivessem a consciência da finitude de seus dias, os autores acreditam que seria possível eliminar a pequenez e mesquinharia encontradas nas coisas do dia a dia.

Ciente da própria mortalidade, talvez não brigaríamos no trânsito, não nos apegaríamos a detalhes insignificantes, pararíamos de reclamar de tudo e aproveitaríamos as oportunidades que recebemos todos os dias.

A vida tem um fim, portanto, agradeça à natureza por ter lhe dado a chance de passear por esse universo, possuindo, dentro de você, o cérebro mais perfeito que existe – o único capaz de refletir, buscar uma vida melhor e aprender sobre si mesmo.

Amor e paixão

Alguns mundos nos deixam alegres e nos caem bem. Quando surgem diante de nós, alteram a composição química e física do corpo, elevando nossa energia, libido e potência.

É natural que, percebendo essa experiência, incorporando esse sentimento à consciência, desejemos outra dose. Para Espinosa, filósofo racionalista do século XVII, isso é o amor: alegria acompanhada da consciência de sua causa.

Em seguida, buscamos aquilo que nos trará alegria e, assim, se estabelece uma dependência. Acreditamos que, se o objeto de nossa alegria não estiver ao alcance, a felicidade é impossível.

Todos sabemos que o dinheiro assegura que muitos desses objetos estejam à nossa disposição. Porém, as coisas se complicam quando a alegria depende de encontros que a riqueza e o dinheiro não podem garantir.

Se a causa da sua alegria é a presença de uma pessoa, você está à mercê de decisões que não controla. Se a pessoa em questão não quiser se aproximar de você, o que acontece? Sua alma vacila, o seu corpo perde o equilíbrio e todo o seu ser entra em ebulição. Infelizmente, a chance de que isso não dê certo é muito grande.

Poder

Para que possamos viver em sociedade, o poder está em toda a parte. Na verdade, as relações de poder são estabelecidas por que é impossível que cada indivíduo tenha o total controle de si mesmo.

Embora poucas pessoas redijam as leis, todos as obedecem. Você já se perguntou por quê as coisas funcionam assim? Qual é a base sobre a qual se assenta a legitimidade de nossos governantes e o poder que eles exercem? Por que as pessoas não se revoltam?

A essa altura, você já deve ter percebido que, mais do que oferecer respostas, nossos autores desejam elaborar perguntas para que os leitores reflitam por si mesmos.

Esse é, segundo eles, o verdadeiro trabalho de um filósofo: fazer as pessoas pensarem e não oferecer receitas ou fórmulas prontas que visam apenas tutelar a inteligência alheia.

Nesse sentido, uma das mais importantes questões levantadas na presente obra é essa: por que todos nós aceitamos, tranquilamente, essa condição de subordinação, na qual outros fazem escolhas por nós?

Notas finais

Os objetivos conferem sentido a cada experiência de vida. Sendo assim, não há nenhum problema em se orgulhar de suas próprias conquistas. Agradeça, valorize e preserve todas as relações estabelecidas com quem é realmente importante para você.

Lembre-se, também, de aproveitar e saborear os momentos que a vida lhe trouxe, estando realmente presente, sem se fixar demasiadamente na espera de realizar aquele grande sonho.

Embora seja importante ter um objetivo no horizonte, em seu cotidiano é fundamental buscar a tranquilidade advinda de saber que hoje você aproveitou plenamente a vida e deu o seu melhor em todos os momentos.

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Quem escreveu o livro?

Clóvis de Barros Filho é jornalista, palestrante e professor na área de Ética da Escola de Comunicações e Artes da Universidade... (Leia mais)

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